Ideologia e Alienação

Postado pelo grupo:Relações étnico-raciais


A palavra Ideologia foi usada pela primeira vez no sentido político mais amplo, por Karl Marx, há pouco mais de 100 anos. Marx via o conceito de ideologia como consciências separadas de proletários e burgueses.
Lukács e os pensadores modernos viam a questão da consciência operária como alguma coisa mista, um conjunto de ideias, às vezes até bem opostas à sua realidade de classe. Depreende-se daí que a ideologia significou apenas um tipo de pensamento preocupado com a questão política: “Quem domina a sociedade? E esse que domina, domina quem?”
A questão da ideologia, nos dias atuais, é um pouco mais ampla do que isso. Não é apenas uma questão política, de ser contra ou a favor do proletário, da burguesia, do capitalismo ou do socialismo.
Para caracterizar a ideologia, recorremos à autora Chauí, que nos preconiza 6 aspectos:
Se tomarmos ideologia como uso de formas simbólicas para criar ou reproduzir relações de dominação, podemos concluir que as representações sociais, pelo fato de serem simbólicas, podem ser ideológicas, mas não podemos deduzir isto a priori.
Para dizer que uma representação social é ideológica, precisamos primeiro mostrar que ela serve, em determinadas circunstâncias, para criar ou reproduzir relações de dominação.
Uma Representação Social é ideológica se, com o uso de formas simbólicas, em determinadas circunstâncias, serve para criar ou reproduzir dominação. Convém aqui fazer uma breve colocação acerca do que sejam essas formas simbólicas e a dominação. As primeiras estão inseridas nos contextos sociais e correspondem a comportamentos, falas, imagens, textos, produzidos pelos indivíduos e reconhecidos por eles e pelo grupo. Dominação é “uma relação que se estabelece entre pessoas ou grupos onde uns interferem e se apropriam das capacidades ou habilidades de outros, de maneira assimétrica” (Oliveira & Werba, 1998, p.112)
A função principal da ideologia é ocultar e dissimular as divisões sociais e políticas, dar-lhes a aparência de indivisão e de diferenças naturais entre os seres humanos.
Indivisão: apesar da divisão social das classes, somos levados a crer que somos todos iguais porque participamos da ideia de “humanidade” ou da idéia de “nação” e “pátria” ou de “raça”, etc.
A produção ideológica da ilusão social tem como finalidade fazer com que todas as classes sociais aceitem as condições em que vivem, julgando-as naturais, normais, corretas, justas, sem pretender transformá-las ou conhecê-las realmente, sem levar em conta que há uma contradição profunda entre as condições reais em que vivemos e as ideias.
Por exemplo, a ideologia afirma que somos todos cidadãos e, portanto, temos todos os mesmos direitos sociais, econômicos, políticos e culturais. No entanto, sabemos que isso não acontece de fato: as crianças de rua não têm direitos; os idosos não têm direitos...
Para resumir, pessoal, ideologia é um conjunto de ideias, de procedimentos, de valores, de normas, de pensamentos, de concepções religiosas, filosóficas, intelectuais, que possui certa lógica, certa coerência interna e que orienta o sujeito para determinadas ações, de uma forma partidária e responsável.

Alienação

Marx investigou a alienação social. Interessou-se em compreender as causas pelas quais os homens ignoram que são os criadores da sociedade, da política, da cultura, da história, e acreditam que a sociedade não foi instituída por eles, mas por vontade e obra de deuses, da natureza, da razão...
Por que os homens não se reconhecem como sujeitos sociais, políticos, históricos, como agentes e criadores da realidade? Por que as pessoas não se percebem como sujeitos e agentes e se submetem às condições sociais, políticas, culturais, como se elas tivessem vida própria, poder próprio, vontade própria e os governassem, em lugar de serem controladas e governadas por eles?
Para compreender o fenômeno da alienação, Marx estudou o modo como as sociedades são produzidas historicamente pela práxis dos seres humanos. Verificou que, historicamente, uma sociedade sempre começa por uma divisão e que essa divisão organiza todas as relações sociais que serão instituídas posteriormente. Trata-se da divisão social do trabalho.
Na luta pela sobrevivência, os seres humanos se agrupam para explorar os recursos da natureza e dividem as tarefas dos homens adultos, das mulheres... A partir dessa divisão, organizam a primeira instituição social: a família.
As famílias trabalham e trocam entre si os produtos do trabalho. Surge uma segunda instituição social: a troca, ou seja, o comércio. Algumas famílias conquistam mais bens que outras, tornam-se mais ricas. As mais pobres vêm-se obrigadas a trabalhar para as mais ricas em troca de produtos para a sobrevivência. Começa a surgir a terceira instituição social: o trabalho servil, que desembocará na escravidão. Os mais ricos e poderosos reúnem-se e decidem controlar o conjunto de famílias, distribuindo entre si os poderes e excluindo algumas famílias de todo o poder. Começa a surgir a quarta instituição social: o poder político, de onde virá o Estado.
Nessa altura, os seres humanos já começaram a explicar a origem e a finalidade do mundo, já elaboraram mitos e ritos. As famílias ricas e poderosas dão a alguns de seus membros autoridade exclusiva para narrar mitos e celebrar ritos. Criam uma outra instituição social, a religião, dominada por sacerdotes, de famílias poderosas e que, por terem a autoridade para se relacionar com o sagrado, tornam-se temidos, venerados pelo restante da sociedade. É um novo poder social.
Os vários grupos de famílias dirigentes disputam entre si terras, animais e servos e dão início a uma nova instituição social, a guerra, com a qual os vencidos se tornam escravos dos vencedores, e o poder econômico, social, militar, religioso e político se concentram ainda mais em poucas mãos.
“Os homens fazem a história, mas não sabem que a fazem” (Marx apud Chauí:172). Os homens acreditam que fazem o que fazem e pensam o que pensam porque são indivíduos livres, autônomos e com poder para mudar o curso das coisas como e quando quiserem. Ex: o pobre é pobre porque quer.
A alienação social é o desconhecimento das condições histórico-sociais concretas em que vivemos, produzidas pela ação humana, também sob o peso de outras condições históricas anteriores e determinadas. Há uma dupla alienação: por um lado, os homens não se reconhecem como agentes e autores da vida social, com suas instituições, mas por outro lado e ao mesmo tempo, julgam-se indivíduos plenamente livres, capazes de mudar sua vida como e quando quiserem, apesar das instituições sociais e das condições históricas. No primeiro caso, não percebem que instituem a sociedade; no segundo caso, ignoram que a sociedade instituída determina seus pensamentos e ações.
AS três formas de alienação nas sociedades modernas ou capitalistas são: a  alienação social, a alienação econômica e a alienação intelectual.

Referencial bibliográfico

BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 1999. 368 p.
CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. São Paulo: Brasiliense, 1997. 125 p. (Coleção Primeiros Passos, 13).
LANE, Silvia T. Maurer; CODO, Wanderley (Org.). Psicologia social: o homem em movimento. 13. ed. São Paulo: Brasiliense, 1995. 220 p.
Chaui, Marilena. “ O Conhecimento” in: Convite à Filosofia
Ed. Ática, São Paulo, 2000.
Fonte: Texto Complementar- Ideologia e Alienação
Lisnéia Aparecida Rampazzo

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